sexta-feira, março 27, 2009

Cara de Campeão, Jogo de Canastrão

Lisboa, Agosto de 1996.

Jamir: "E o Benfica vai ser campeão!"
Donizete: "E o Benfica tem cara de campeão!"

É certo que os brasileiros nunca foram grande coisa a prever o futuro, ou não tivesse o então petiz Kaká estado a aquecer o banco para Léo "Gascoigne Carioca" Lima nas camadas jovens do escrete. Esse sim, era a grande promessa. Esse e o Leandro do Bomfim, símbolo máximo da criatividade extemporânea do futebol feito arte plástica espelhada no quadro da vida.

Porém, estes dois mamíferos exageraram.

Tudo bem, a pré-época é a primavera da vida. Um mês antes do esférico rolar comme il faut, todos os sonhos são permitidos, todo o Escalona é Roberto Carlos, todo o Bossio é Oliver Kahn, e todo o Benfica é pré-campeão. Pelo menos para o diário "A Bola".

Mas em 1996/1997? Uma equipa cujo esteio defensivo dava pelo nome de Jorge "Own Goal" Bermúdez, cujo centrocampista nuclear era um cinquentão Valdo, bem secundado por Nica Basarab e José Calado, que serviam perfumadas trufas numa bandeja de ouro a Hassan Nader, Fabrice Alcebíade Maieco e ao mortífero carteiro sem aviso de recepção, Martin, o Pringle? Esse Benfica?

OK, Jamir. Seja feita a tua vontade.
E daí, talvez não.
O clube do jovem Jamir acabaria o campeonato a 27 pontos do campeão, nada menos que uma equipa que contava com nomes do calibre de Andrzej "Popeye" Wozniak, Lars "Not Ulrich" Eriksson, Silvino "Não Sou" Louro e Henrique "Eu Assisti À Segunda Fase Da Revolução Industrial" Hilário para defender o seu último reduto.

Mas seja feita justiça ao coriáceo centrocampista de Vera Cruz. Diga-se aqui que não terá sido por sua culpa que o Sport Lisboa de seu coração não terá sorvido o cálice da glória do seio do triunfo.
Aos olhos da crítica (que não os do Coveiro Amaral, sempre discordantes entre si) Jamir foi um dos raios de luz que aqueceram o longo e gélido inverno lisboeta de 96/97. Brilhante na forma esquemática como interpretava a táctica do pirilau, emprestando-lhe uma passividade dotada de inteligência emocional ao mais alto nível.


Sejamos francos: será a passividade ofensiva um crime de lés-a-águia, quando nas asas de um condor o sonho desliza impotente, sem Rei nem Hélio Roque, sem Ilian Iliev ou pedra de toque?
Será a não-participação nas tarefas defensivas punível com a guilhotina dos críticos, ou será apenas uma mera descarga de esgoto num outrora límpido lago, somente inquinado em dias ímpares por Hélderes holandeses de nome Glenn?

Será a falta de talento condenável com pena capital, ou será uma mera fatalidade semelhante a uma lesão muscular do Hugo Leal?

Questões que ficam por responder, tal como Paulo Autuori ainda espera tranquilamente que Jamir responda de primeira a um cruzamento de Donizete vindo da direita. Porque uma vez pé-canhão, sempre pé-canhão.

terça-feira, março 24, 2009

Edinho Na Selecção!

Finalmente, o reconhecimento: Edinho foi chamado à Selecção!

Já não era sem tempo. Aos 42 anos e ainda a jogar no quase devoluto Farense, depois de ter passado por Olhanense, Portimonense, Chaves (no cromo), Guimarães, Sporting (deu um passôbem ao Paulinho e foi imediatamente retocar a permanente), Bradford, Dunfermline (só para estar perto da destilaria do Johnny Walker), Portimonense – outra vez, U. Lamas, Vizela, Olhanense – outra vez, Portosantense, Juventude de Évora e Campinense, Edinho recebeu o merecido prémio-carreira e estará na Selecção de todos nós.
… de “todos nós”, no sentido de sermos mesmo todos, desde portugueses a brasileiros, passando por ucranianos, togolesas com enormes espaços entre os dentes, esquimós e o Ronny; é mesmo a Selecção mais abrangente que possam imaginar e se o vosso cão tiver jeito para a bola, mesmo que seja um pastor alemão… não percam tempo e tragam-no a um treino de captação, OK? Depois alteramos o pedigree e ele fica logo seleccionável. Não se preocupem.

Agora sim, com Edinho estão reunidas as condições para atacarmos a qualificação em peso. E quando falamos de Edinho e de peso na mesma frase não o fazemos de forma inocente. Sim, porque Edinho, essa máquina de golos com sotaque sopinha de massa, continua em forma e não dispensa um belo cachorro quente a transbordar de maionese e mostarda em cada 15 minutos do jogo. Isto é, Edinho mantém, aos 42 anos, uma forma física invejável capaz de corar qualquer uma das bochechas do Pedro Morcela.

Pode já não ter a sagacidade dos velhos tempos, nem os rui-sânticos caracóis que lhe decoravam a sua jovem face, mas certamente que o seu histórico poder de fogo despertou em Carlos Queirós uma nostalgia inquebrantável que o fez constatar: “Isto só lá vai com o Edinho, o torpedeiro de Chaves. Ele vai ser o nosso homem”.
Agostinho Oliveira, também ele dotado de uma bela composição capilar, a(d)juntou “de Chaves e de mais uma catrefada de sítios, pá” e Queirós ficou sem dúvidas “Ena pá, é isso mesmo, o nosso pequeno bombardeiro identifica-se muito mais com o país real do que por exemplo… eu mesmo!”. E estava selada a surpresa.

Contudo, a verdade veiculada pela imprensa dá conta dessa surpresa, mas envolvendo outro Edinho. A Cromos da Bola, SAD, explica o que se passou. Edinho estava a recuperar energias após um treino geriátrico sem bola numa piscina cheia de banha de porco quando recebeu a chamada do Professor Queirós. “Blá-blá-blá… crise de avançados… blá-blá-blá… falta de carisma e experiência… blá-blá-blá… estás convocado!”. Edinho até se engasgou com um frasco de manteiga de amendoim: “Como é meizmo? Você tá convocando eu prá jogá por Porrtugáu?
- É isso mesmo, pequeno Eduardo. Tu serás a nossa arma secreta!
Mas Edinho mostrou-se irredutível:
- Dji jeito nénhum! Estou muito lêgáu aqui no Eispórtjingui Farensi, não tô prá enchê o sácu com êssis caras aí, pô! Aléim du mais, já tô comprometchido com a sêlêção do Rwanda. Ou do Burkina-Faso. Não sei bem, mais vô sê o Roger Milla dus caras e vô jogá lá assim qui fizé os 45 ânu, tá entendendu?
Dito isto, Edinho desligou com um desprezo só possível a quem já marcou golos de cabeça mesmo não tendo 150 centímetros de altura.
Queirós encarou a nega com tranquilidade.
- E agora, pá, e agora?!? Este anão goleador era a minha última esperança! Que vou eu fazer? O Moreira de Sá disse que não, não percebi o que o Serifo disse, o Paulo Alves não me disse nada… e agora que até já tínhamos revelado o nome à imprensa e tudo… que se lixe, vou já tomar a cápsula de cianeto!
Mas Agostinho foi a tempo de evitar males maiores.
- Eh pá, ó Carlos, a gente arranja aí um Edinho qualquer e ficas bem na fotografia. Vais ver.

E pronto, lá arranjaram um Edinho qualquer na Grécia, um português nem bem de gema, nem bem de clara, mas ainda assim um tipo que pode atrapalhar os suecos, quanto mais não seja por ter escapado ao relatório dos seus olheiros.
Apesar de tudo, uma coisa não conseguirão mascarar: esta convocatória era para este Edinho.
Aliás, na nossa memória só existe este Edinho. E ele já ocupa demasiado espaço para poder caber outro Edinho.

segunda-feira, março 23, 2009

Patologias e Talentos Escondidos

















Sempre em cima do acontecimento, Cromos da Bola, SAD descobriu o passado do reguila lateral direito sportinguista, reputado craque em modalidades que nada têm a ver com o nosso amado cautchú.

Realçamos a cândida e piedosa decisão do Comité Olímpico, que permitiu a Pedro Silva tomar parte dos Jogos, apesar da sua anomalia física, causada pela patologia taçaligusbenfikose multiplae, que já atingira o ex-estrelista Wagnão, como documentado neste blog em Setembro de 2007.

segunda-feira, março 16, 2009

Pollga? He's back!


Hoje falamos de regressos. Não propriamente do D. Sebastião ucraniano, Kandaurov, mas das sempre aguardadas Pollgas, verdadeiras traves mestras deste humilde e sempre kassumoviano blog.
Sem mais delongas, auto-golos, escorreganços à saída da pequena área e falhas de marcação, passamos a apresentar a mais recente Pollga do excelso blog.

Tal como Carlos Queiróz, Enrique Flores, Robert Redford, Paulo Bento, Alberto Pazos, Coelho da Páscoa e Jesualdo Ferreira, nós queremos um lateral esquerdo.

Quem?

Escalona, Nito, Kasongo, Rojas, Minto, Pesaresi, Balajic, Lino, Ezequias, Will Quevedo, Lila, Marian Had, Ronny, Mareque, Abazaj, Quim Berto, Diogo Luís, Paulo Banha Torres, El Hadrioui, Leonel, Vlk, Nelo, Briguel, Caetano, Sepsi, Erivan, Areias, Pedro Henriques, Rubens Jr., Vujacic, Pedrosa, Bruno Basto, Kenedy, Tito, Rogério Matias, Milhazes, Rabarivony, Bajcetic, Leandro, Eusébio ou Margarido?...

Não sabemos. Mas contamos convosco para seleccionar 10 homens apenas desta mixórdia de nomes inaptos, heteróclitos, esdrúxulos, lânguidos e alqubrados - e no caso de Vlk, sem vogais - em breve trecho.

Deixamo-vos também com o estado de coisas do nosso "11 Cromos da Bola, SAD".

May God(eméche) be With You.


clickar nas imagens para ampliar

sábado, março 14, 2009

Bafode o Fevereiro todo


O mês começou com uma vitória sobre o Olhanense de Guga Rasta Man, Jorge Costa Bicho Man, Rui Baião Man, e Djalmir goleador man. Grande vitória sobre o 1º classificado... mas Bafode não foi usado, utilizado, minutizado ou mesmo que fosse um pequeno bafo de bola.

Jogo seguinte, há que ir ao centro do país à terra da Oliveira do Azeméis, onde se liam cartazes na bancada como : "Aqui em Azeméis o Bafode vai andar ao papéis". O público exultava, exaltava e saltava.. e eis que surge Bafode Dabo do Carvalho aos 68 minutos (Obrigado João Carlos Pereira por pores a jogar o nosso menino) em campo. e nesm 10 minutos depois, Bafode rompe e acaba com o jogo.. é goooooooooooooooooooooooooooolo !!!! bafodendo o jogo todo e a equipa da casa que se tentava segurar na II Liga. 75 minutos, 1º golo de Bafode na Liga mais Bafodida de todas. 76 minutos, o nosso Watchado Dabo recebe amarelo. Portanto, pode-se dizer que Bafode em 20 minutos participou em praticamente todas os items das estatísticas oficiais e rascunhos dos jornalistas presentes. O dia foi de "Bafode, o homem com que nem Oliveira de Azeméis pode".

Jogo seguinte, em casa. O regresso do herói, o Suuuuuuuuuuuper-Bafooooooooooooooooode. Contra o Feirense, candidado e concorrente do Estoril-Praia (como é que um clube de futebol de relvaa se chama Praia?! É como se um clube de praia se chamasse "Nazaré-Relva".. mas enfim)

João Carlos Pereira decide guardar a bomba no banco.. e esta só explodiu aos 76 minutos, quando entrou em campo. Desta vez, talvez por timidez e pressão do público que empunhava cartazes como "Bafode, mostra lá quem é que pode", o nosso Dabo nada fez de relevante.

Triste, só, não reconhecido, partiu para mais uma semana dolorosa com perguntas na sua mente como "Misté João Cálos Peréira, porque não me poes a jogar aqui na Amoreira?"

Inconfundíveis rimas made in Guiné Bissau. Triste, só e não reconhecido, Bafode partiu no fim de semana com a sua equipa para o jogo em Aveiro. Beira-MAR contra Estoril-PRAIA. Uma espécie de derby salgado, derby Olá, derby veraneante. Aliás, soubemos por fontes próximas da capitania de Aveiro que vários barcos da Guiné atracaram no Porto de Aveiro (como é que Aveiro pode ter um Porto? É como Pampilhosa ter um Guimarães.. não cabe!!) Este jogo está para o futebol como o Paulo Bento está para o Sporting. Fresco, emotivo, dividido (no couro cabeludo é bem notório), explosivo, nervoso, Veloso, zeloso e no fundo.. Falhado.

por isso, Bafode Dabo do Carvalho não saiu do Banco e o Estoril-Praia perdeu.. Pimba!! toma lá!! 3-1 contra o Beira-MAR.

Sera Março o Mês de Bafode?? Não percam os próximos episódios após compromissos publicitários.. de talvez... 2 semanas :)

quinta-feira, março 12, 2009

A Balada de Vítor Vinha

Vítor Vinha disse que o Vinha vinha ver a sua vinha
Mas não veio
E que Valente vinho vem da vinha do Vítor Vinha
Que vasta videira o Videira vendeu ao Vítor Vinha
Mas o Vinha vinha vendo
Que o vinho que vinha da vinha do Vítor Vinha valia vinagre
E vai daí

Vítor Vinha avisou o Vinagre para vir ver a vinha
Mas o Vinagre fez como o Vinha
Fez como o Vinha e não veio ver a vinha do Vítor Vinha
Ele disse que se viesse ver a vinha do Vítor Vinha
Depois vinha vaiar o Vinha a Vinhais
Fez como o Vinha e não veio ver a vinha do Vítor Vinha

E na volta
Vinha ver como o João Viva vivia a sua vida
E Vítor Vinha deu um viva ao João Viva
Pois Viva vinha ver a sua vinha
Viva o Viva por avivar a vinha do Vítor Vinha
E para evitar ver o Vinagre a vaiar o Vinha em Vinhais
O Viva viveu na vinha do Vítor Vinha até o Vinha vir de Vinhais

sexta-feira, março 06, 2009

Bafode Watch I


Inauguramos hoje uma nova rubrica aqui no Cromos da Bola, SAD:
- O Bafode Watch.

Enamorado pelas múltiplas capacidades do jogador canarinho Bafode Carvalho, o comité bloguístico decidiu ofertar uma resenha mensal da magia bafodiana a todos os adeptos do futebol mundial, que desta forma podem passar a seguir a carreira do estóico polivalente gialloblú.

- "Raios me bafodam, mas quem é o carvalho do gajo?"

Nada nos dará mais prazer do que responder a essa questão:

Ou melhor, a um anónimo Mestre youtubiano. Segundo as sábias palavras do sempre atento AGENTEVANDRO, o lateral-direito Bafode faz uma perninha a extremo, mas também pode jogar a trinco caso seja necessário. Senão vejam, no seu melhor inglês Graeme Sounéssio:
- "quickly and great skill ,good cross and well knowing for be very strong right defender,could play as a DEFENSIVE MIDFIELD as he has enough ability and great pass, create a lot of oportunity for his team mate!! "

Proponho-me a traduzir o texto do nosso entusiasta amigo:

-"rapidamente e grande capacidade ,bom cruzamento e sabendo bem para ser forte defesa direito, podia jogar como um MEIO-CAMPO DEFENSIVO já que ele tem habilidade suficiente e excelente passe, cria muitas oportunidade para o seu equipa amigo."

Parece-me algo que poderia sair da experiente cavidade bucal de Jorge Jesus, mas não vejo por que motivo o reputado Mijter arsenalista haveria de usar um pseudónimo. Assim sendo, vamos continuar a chamar-lhe AGENTEVANDRO...mas com todo o carinho do Mundo, claro.
Até porque o mesmo guru youtubense nos faculta um mágico vídeo com os melhores momentos da carreira do estorilista Bafode Dabo Carvalho. Aqui.

Como desde cedo se aperceberão, este deleite de oito minutos é bem capaz de ser uma das melhores compilações de jogadores existentes na internet. Esqueçam os golos de Ibracadabra, os regates de Leo Messi ou os slaloms de CR7. Temos os atrasos para o guarda-redes e os passes curtos lateralizados de Bafode Carvalho.


A movimentada compilação dos melhores momentos da carreira do nosso herói conhece o seu primeiro momento de êxtase aos 00:36 seg, momento no qual podemos observar o melhor cumprimento arbitral da carreira de Bafode. A perfeita extensão do braço e a correctíssima postura do espécimen compõem um cordial bacalhau do carvalho.

O carvalho do Bafode é absolutamente exímio a fazer atrasos imaculados para os centrais (1:09 min ou 3:29min) e exibe uma invulgar maestria na forma como observa os colegas a executar livres directos (2:00 min).
Reparem no seu globo ocular direito: perfeitamente posicionado no rosto, demonstrando um raro savoir faire futebolístico-fisiológico.

O polivalente luso é de igual forma excelente a ajeitar a bola e correr para a marcação das bolas paradas. Infelizmente ficamos sem saber como as marca, ao final de contas (2:05min e 2:15min).

Pouco depois, demonstra todo o seu potencial-mantorras ao ludibriar um adversário e a colocar o cautchú no insuspeito ariete canarinho, que finaliza afobado (2:42min).
Mas não fica por aqui: potencial cacciólico (4:00min) a bafoder a sempre bela e elegante defesa do Sport Lisboa para uma concretização do carvalho.
Excelente passe lateral aos 4:35min. O carrossel canarinho no seu apogeu bafodiano. Estaremos na presença do tão aguardado Farnerud de Ébano?

Brilhante a forma como usufrui da capacidade de andar, usando as duas pernas e o seu belíssimo ouvido interno para manter o equilíbrio (5:45min).
Aos 6:14 min, um momento de carinho, que vai buscar qualidades humanas ao fundo daquele poço negro de sórdida carnificina chamado Gilles Binya. Foi o primeiro contacto humano não-agressivo/mutilador da carreira do centro-campista camaronês. A próxima viagem de Bafode Carvalho será à Faixa de Gaza, onde tentará envolver os embirrentos israelitas e palestinianos num doce e ternurento abraço pacificador.

O que aprendemos ao visionar estas imagens? Para além de que o equipamento do Estoril-Praia parece um pijama da Fabio Lucci, descobrimos que Bafode Carvalho é ambidestro da língua, mestre na basculação lateral técnico-táctica do futebol contemporâneo vertical e bravíssimo na componente defensivo-ofensiva da ocupação de espaços previamente ocupados.

Para a semana, o primeiro report, onde passaremos a prokopenko fino o Mês de Fevereiro protagonizado por Bafode Dabo Carvalho. Até lá, não se bafodam todos, carvalho.

quarta-feira, março 04, 2009

Patrocinadores Jeitosos

Estávamos em 1989. Xavier e Resende saíam de Riade a pensar em altos voos, antes de se despenharem pelos precipícios da desilusão. Miguel Veloso aprendia o B-A-BA das madeixas, enquanto o seu pai treinava penalties contra um boneco do Van Breukelen durante serões a fio. E pelos nossos relvados, camisolas aparentemente simples cobriam-se de patrocínios que revelar-se-iam históricos. Eis uma pequena amostra.

Apenas um nome era capaz de tornar o habitualmente sorumbático Isaías numa espécie de criança sorridente. Esse nome era “Teresinha”.
Teresinha foi como ficou conhecida a mais apaixonante sapataria de todos os tempos. E Teresinha tinha outra irmã, Beleza de seu nome, também ela uma sapataria, também ela uma aficionada pelo futebol do Porto. Porém, duas irmãs, duas paixões: enquanto que Teresinha perdera-se de amores pelo xadrez do Bessa, Beleza grudava-se como uma lapa aos bancos de suplentes das Antas.
Ah, Teresinha, Teresinha; quantos boavisteiros trajaram com o teu nome cravado a letras vermelhas no seu torso musculado… De Hubart a Phil Walker, quem ficou indiferente ao charme discreto da mais famosa Teresa do futebol nacional?
É justo reconhecer: o nosso imaginário futebolístico está marcado a tinta permanente por esta Teresinha. Quantos de nós, ao observar as bravas vestes quadriculadas, não quisemos conhecer-te de perto, entrar dentro de ti, tactear o teu couro e apreciar o conforto de um 42 biqueira larga? Todos nós, Teresinha. Também queríamos sentir a nossa peúga acariciada por ti e sermos Nelsons Bertolazzis por um dia.
Anos mais tarde, Teresinha revelou-se finalmente aos nossos olhos, sob a forma de menina da TV Cabo. Não nos desiludiste, Teresinha – não eras nenhuma bota da tropa, mas o sapatinho de Cinderela que humedecia os nossos sonhos.

A casualidade assaz natural de N’Dinga, espantado com o insólito objecto que lhe espetaram diante dele (“É só uma máquina fotográfica, N’Dinga”), apenas encontra contraste no vigor com que Tensai foi estampado na alva e engelhada camisola vimaranense.
Para dizer a verdade, a Le Coq Sportif apenas queria equipar o conjunto de trolhas que iria fazer umas obras na mansão do seu presidente. Vai daí, compraram cerca de duas dúzias de t-shirts brancas XL na Feira de Espinho por uma verdadeira pechincha. Só então é que veio a ideia de fazer um equipamento desportivo a partir das t-shirts, depois do sindicato dos trolhas ter rotulado o equipamento proposto de “indigno para toda a classe profissional”.
A direcção do Vitória ainda hesitou – “Eh pá, com aquelas golas em plenos anos 80 vamo-nos fartar de ser gozados, até perante o Fafe” – mas quando a Tensai lhes apresentou a sua proposta de patrocínio não restaram dúvidas: “Sim senhor, aquilo é que é pujança na ocupação do espaço; quase que já parece um equipamento de futebol a sério”.
Apesar do ar confuso de N’Dinga, tal opção fazia sentido: um equipamento rudimentar com um patrocínio ligado à tecnologia. Até era um avanço no sentido da modernidade. Antes de Tensai tinha sido o Atum General. Dizem que uma lata de atum vazia pagava o próprio equipamento da Le Coq Sportif.

Este breve lamiré despede-se não com um exemplar, mas toda uma equipa. É o mínimo que se podia fazer. Falamos do saudoso Beira-Mar, que regressara ao convívio da elite. Ou melhor, alguns chamar-lhe-iam Beira-Mar, mas os mais atentos designavam este brioso colectivo de “Exército das Telhas Campos”.
As Telhas Campos eram a verdadeira razão de ser destes guerreiros, tal o peso do seu prestígio. Todo o plantel treinava-se afincadamente durante a semana apenas para chegar ao Domingo e passear com altivez o nome das valentes Telhas Campos pelas quatro linhas deste rectângulo à beira-mar plantado. É possível vislumbrarmos o orgulho indisfarçável de mitos vivos como Dinis, Abdel-Ghany, Alain e Bugre, bem como a alegria transbordante de personagens como Paulo Campos, Costeado, Paquito e João Gouveia. O guarda-redes Miguel era naturalmente o mais triste por não ter direito àquele pedaço sagrado de tecido publicitário.
Todo o plantel uniu-se em nome deste ideal: evocavam o nome das Telhas Campos nas alturas más, glorificavam em êxtase a qualidade incomparável do material argiloso nas alturas boas e nunca deixaram que qualquer cerâmica espanhola denegrisse o seu bom-nome. Por exemplo, Dinis nunca foi capaz de partir uma Telha Campos que fosse na cabeça de Paquito – utilizava antes material em borracha impermeável, que até podia ser reutilizado em outras agressões semelhantes ou então para o telhado da sua garagem.
Há quem diga simplesmente que os tipos não batiam bem da telha, mas isso já não é para aqui chamado.

Agradecimento ao blogue Glórias do Passado pelo magnífico arquivo fotográfico.

domingo, março 01, 2009

Francis Bacon, Ultramar, e uma Angola "Loca" por sangue

Francis Bacon disse muitas coisas na sua vida. Disse coisas boas, coisas menos boas, coisas hediondas e coisas fabulásticas. Uma dessas postas de pescada revelou-se premonitória:

- "A vingança é uma espécie de justiça selvagem.", citação tatuada no peito do palanca Paulão, corria o ano de 2001.

O angolano era obcecado pelo filósofo londrino; seu fã de longa data e amante platónico post-mortem. Não raras vezes jogava com uma fotografia de Francis carinhosamente enfiada nos seus calções, o que o levou a ter uma discussão acesa com Marco Aleixo, quando ambos defendiam as cores do Sporting da Costa Verde.
Marco opunha-se ferozmente ao empirismo e afirmava com veemência que Confessio Fraternitatis o enojava particularmente. Escusado será dizer que as sessões de treino do clube de Bolinhas eram assaz quentinhas, e que Paulão levava a melhor com alguma frequência. Porque tinha Bodunha do seu lado.
E quem tem Bodunha, tem tudo.
E ganha. Sempre.














Na selecção angolana, o belicoso duo procurava converter os restantes companheiros à doutrina de Francis Bacon. Loco não percebia porque raio os seus colegas tanto gostavam de bacon francês, ele preferia fiambre mesmo. E isso deixava-o louco da vida.
Wilson e Quinzinho, por outro lado, beberricavam o conhecimento cuspido por Bodunha e Paulão, abraçando apaixonadamente a causa baconiana, nos raros momentos em que não se abraçavam um ao outro.
Pouco a pouco, todo o plantel foi-se entregando à seita de Francis Bacon (menos Loco - o Rijkaard subsariano - que ainda preferia fiambre).

Alheio a tudo isto, a uns belos milhares de quilómetros de distância, o povo português sorria.
O sol brilhava, Laszlo Boloni estava très content, Phil Babb e Pavel Horvath partilhavam tépidas pints of lager, e Ivan Litera vencia constantemente os concursos de cotão de umbigo que realizava com o seu compincha Carrasqueira.

Respirava-se optimismo. Estávamos em 2001 e a Humanidade vivia o excitante dealbar de um novo milénio. A ideia era esquecer os mil anos anteriores, marcados por guerras, epidemias e Martin Pringle. Olvidar os dez séculos volvidos, que revelaram a face medonha do ser Humano e o levaram a um período de introspecção.
O novo milénio surgia como uma nova oportunidade, uma forma de expurgar os pecados e construir um Mundo melhor tendo por base a paz, um fio de cabelo do Giovanella e o amor. A parte do fio de cabelo foi um sucesso, mas as restantes iniciativas tiveram um resultado semelhante à contratação de Nica Basarab Panduru pelo FC Porto.

Tudo terminou a 14 de Novembro de 2001. O dia em que a humanidade perdeu a esperança.
"Hão de pagá-las, brothers", balbuciava o buliçoso médio André Venceslau Macanga na véspera do encontro amigável entre Portugal e Angola, jogo-símbolo do desabrochar das novas relações entre os dois Países. Festa, celebração e exaltação de dois povos irmãos, que deixando os horrores da guerra colonial definitivamente para trás, se iriam fundir num longo e reconciliador abraço, exalando amor à maneira de Príncipe Maestro e David "Bad Muthafucka" Luíz.

Mas Macanga tinha outras ideias:
- Construir um império financeiro baseado em almofadas de folhelho de trigo sarraceno e alfazema.
- Vingar-se da guerra colonial.

Vamos focar-nos na segunda. Paulão e Bodunha tinham feito passar a mensagem do seu mentor e ídolo -Francis Bacon - aos restantes palancas negras, e Macanga levou-a a outro nível.

"A vingança é uma espécie de justiça selvagem."


Trinta anos após a guerra colonial, a selecção angolana tinha descoberto o palco da vingança: Alvalade.

A festa começou bonita, com
il fantasista varzinense Mendonça a molhar o espargo na maionese logo ao primeiro minuto de jogo. Um toque de magia, um hors d'oeuvre para a festarola ou uma centelha de sadismo? Com que jogo nos iriamos deparar? Um festival de futebol ofensivo, mostra de criatividade e boas intenções de cariz fraternal?

Nada disso.

Ao minuto 13 da partida, o plano angolano começou a tomar seu rumo. Pauleta e o sniper envolviam-se em confrontos. Coisa pouca; ao final de contas estas Taharices são o Lim nosso de cada dia no futebol. Cartão amarelo para ambos. Mas Asha era um homem com uma missão. E não ficaria por ali.
Quatro minutos depois, o primeiro kamikaze rossonero completaria a sua incumbência com eficácia fertoutiana. Souvenir nas pernas de Luís Figo, segunda cartolina amarela, e duche com ele.




11 - 10.






Wilson
- o afável pedaço de mobília belenense - não quis ficar atrás, e transfigurado pelos hostis vocábulos de Francis Bacon, decidiu ver ele também duas cartolinas amarelas no espaço de 180 calvos segundos e abandonar o certame. Aos 28 minutos, o gentil central lambia finalmente o sangue dos lábios - e gostava.

11 - 9.

"Escolher o seu tempo é ganhar tempo". Mais uma citação de Francis Bacon que fez sentido aos curiosos ouvidos de Franklim.
60 segundos após a expulsão do calvo capitão, Frank The Killer protagoniza uma desajeitada tentativa de assassinato ao Pai de Tiago Pinto, e vê-se escorraçado do desafio pelo árbitro francês. "Foram os 60 segundos mais longos da minha vida", diria mais tarde o sanguinário palanca. Andrés Diaz discordava.

11 - 8.

Termina a primeira parte, e os jogadores dos palancas negras rejubilam. No placard tradicional lia-se 3-1, mas no balneário africano contavam-se os hematomas gentilmente oferecidos aos futebolistas lusos. Goleada. O Ultramar ficava finalmente para trás, e Alvalade era palco da mais brutal catarse do futebol mundial desde a conferência de imprensa do Pai de Tiago Pinto pós-Vigo.


Eis que tem início a segunda metade deste histórico jogo. Desde Carrie em 1976 que não se assistia a uma festa tão desastrosa.

Ou uma matança tão festiva.

Portugal precavê-se: tira cinco jogadores de futebol ao intervalo e introduz sacos-de-pancada do calibre de Litos, Frechaut e o Jardel coimbrão.



Os africanos não querem saber. Loco afia os dentes com uma lima, Bodunha saliva, Paulão esfrega a mão e André Macanga faz almofadinhas fofas com o seu folhelho de trigo sarraceno.

Recomeça a partida, e o palanca Neto diz para si próprio: "Não é cedo, nem é tarde."
120 segundos após o reatar das hostilidades (literalmente), a côr amarela surge no seu horizonte, depois de ter tentado cortar o cabelo de Nulo Golos à chapada. Na verdade, já era preciso alguém que tivesse coragem para dizer ao amarantino que o look à Take That terá ficado esquecido algures em 1995, juntamente com a passagem de Jean-Jacques Eydelie pela Luz.

Aos 51 minutos de jogo, depois de 4 minutos sem estropiações, amputações a sangue frio ou arranjos faciais involuntários, o banco angolano decidiu relembrar aos seus jogadores a razão de ser do desafio. Entram os cabecilhas da vingança, Paulão e Bodunha. Com eles entra todo o ódio de um povo revoltado por centenas de anos de ocupação, injusticas sociais e álbuns dos Delfins.

O banho de sangue vai empapando a relva de Alvalade, já reduzida a uma espécie de arroz de cabidela sem arroz. Aos 64 minutos, Neto volta a ávalizar bem um adversário, através de uma tentativa de mutilação ao Jardigol academista. Estes gajos acumulam cartões amarelos como o Paulo Vida acumula tentos. Amarelo+amarelo= vermelho.







11 - 7.









Desta feita, o simbolismo do número 69 não foi muito positivo para os angolanos (excepto para Mantorras, dado ser essa a sua idade). Hélder Vicente, esse maluco, tinha uma rave party em Cabeceiras de Basto e temia que não chegasse a tempo. Esperto como um alho, katsouraniou uma lesão para que o desafio acabasse mais cedo, pois o angolano estava perfeitamente a par da regra que não admite que um jogo continue quando uma das equipas dispõe de um número inferior a sete elementos. É o que dá jogar FM até altas horas da madrugada ao leme do Watford. Aos 69 minutos, Pascal Garibian apitava para o final da carnificina/desafio.

11 - 6. Vitória lusitana por KO.

Terminava assim o arroz de cabidela sem arroz, aquele que seria o momento mais hediondo do futebol português até à conferência de imprensa de Rocky Balboa do Caravaggio com Roberto Leal. Isto apesar de 93% dos futebolistas envolvidos no circus maximus de 14 de Novembro de 2001 jurarem a pés juntos que preferiam passar de novo pelo mesmo a ter que ouvir a versão de "uma casa portuguesa" que Robby Leal e Luíz Felipe nos ofereceram em 2008.

No final, os adeptos angolanos decidiram ofertar cadeiras do estádio de Alvalade aos gladiadores que tinham acabado de se sacrificar pelo bem deles. Pelo bem do espectáculo. Um gesto bonito, que teve continuidade pelas ruas da cidade de Lisboa, tomada pela espírito de festa - e porque não - do Natal que estava aí à espreita. Christmas, bloody christmas.

Porém, até podemos encarar a contenda do 14 de Novembro como algo bastante pacífico, tendo em conta o panorama do cautchú luso. É que não houve avançados com deficiências ortodôncias a socar seleccionadores nacionais, pais de laterais-esquerdos do Trofense a mandar sopapos em árbitros, ou ainda responsáveis máximos de equipas técnicas nacionais a arranjar a dentição de futebolistas sérvios.

E Loco? Foi prazenteiro para casa, cantarolando uma velha máxima de Francis Bacon:
"A porrada é como o adubo, não é boa se não for distribuída."


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